Com Cuba digo qualquer palavra
meu nome meu coração
são són Malecón Martí
Digo minha mãe América
minha espada escrevo a carvão
Como qualquer paixão calada
qualquer prisão alada digo
Cuba
E caminho e abro caminhos
no magma do meu peito
mais e mais latino-americano
Com Cuba escrevo rima e guerrilha
ilha ímã poema irmã o sorriso
de minha filha
digo e descubro
com Cuba
Saio do pouco que sou
entre trânsito e aviões
vitrines e aleijões
inflamações subcutâneas
bolsas e bolsões de mísera vida
Mesmices minhas
minhas trovas
esqueço
E digo tanto, tanto com Cuba...
Outras vogais inconsonâncias
com Cuba
Ponte sobre o horizonte
mais homem sou
Com Cuba
Pedintes putas professores
presidentes estudantes
engraxates barítonos
Tudo isso quero ser com Cuba
onda do mar imensa com Cuba
Com Cuba a que nunca fui
mas que é tudo aquilo
que é Cuba em mim
inflo dentes
Meus dentes de crocodilo verde
e masco neon juros perdas e danos
anéis de doutor e jeans
Masco e rumino o cheiro da gente
das frutas que apodrecem
das abelhas que firmam no céu
a utopia de um mel vermelho vermelho
Como Cuba
Desabrocho talheres
a modo de anzol e foice
a rasgar o céu da boca
de outra possível vida – ida
Com Cuba
Com Cuba outro sol
mais colorido que mais queima
mais cheio de nervos de luzes pontiagudas
Meus olhos negros meu amor
com Cuba
por séculos e séculos
Até quando nem preciso for
com Cuba
Agarrarei teus cabelos de sal
E irei mundo a mil
Com Cuba
e seus orixás
a milhas e milhas daqui
Grega alexandrina mínima guevariana
pobre fidel isla bloqueada
- É esta a música, amigo
Com ela sou teu mais companheiro
intransitivamente
Com Cuba
A todo tempo de todo dia
com Cuba
Até que a vitória vingue
ou vire sonho
Com Cuba sempre
Com Cuba
Nota
Muito embora a mídia convencional chafurde na “crise” financeira do capital especulativo, outros acontecimentos no mundo chamam a nossa atenção e convocam a nossa participação. Vários irmãos cubanos sofrem com o embargo criminoso ao seu país, situação esta que se agravou devido a catástrofes naturais ocorridas no último mês de setembro. Alimentação, produção, saúde, tudo precariza-se ainda mais devido a terríveis acontecimentos neste pequeno país que sustentou sozinho, durante muito tempo, a chama de combate por uma sociedade mais viva, mais humana, menos perversa. Nós artistas, intelectuais, povo de bem do mundo inteiro somos convocados. É nosso dever ajudar. A nossos irmãos cubanos devemos muito. Em Brasília, a Embaixada de Cuba e o Nescuba da UnB estão recebendo apoio e doações ao país. Para entrar em contato e saber como ajudar, acesse: http://www.unb.br/ceam/nescuba/ e entre em contato.
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Alexandre Pilati, é membro do PCdoB-DF, escritor e doutor em literatura brasileira pela UnB. É autor do livro de poemas Prafóra (7letras, 2007).
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