Postado originalmente em História e seus afins :
Palafitas em Manaus.
No cotidiano da vida acadêmica podemos estabelecer duas condutas no que diz respeito ao nosso trabalho do dia a dia e na relação com os outros colegas, das várias disciplinas ou ciências.
Uma conduta de "isolamento" à area específica do conhecimento. Falo de "isolamento" e não de especialização, que é necessária ao aprofundamento de certas questões do conhecimento.
Outra conduta é a busca pelo "diálogo" com outras areas e a percepção mais sistêmica, de totalidade. Especialização e visão de conjunto da totalidade, diálogo, são possíveis. Já o isolamento leva à uma percepção equivocada de neutralidade e cientificismo. O quadro mais agudo desse cientificismo é a visão de que a ciência é o campo da "pureza" metodológica em relação à realidade social e econômica.
Uma das questões levantadas por Marx era sobre a ciência como síntese concreta, integrada à vida real. Utilizemos as explicações do Prof. István Mészáros em seu livro, A teoria da alienação em Marx.
Karl Marx considerava a filosofia de então puramente "especulativa" e as ciências naturais "abstratamente materiais e idealistas". Na verdade, se opunha à uma visão fragmentada e a determinação inconsciente e alienada da ciência.
Vejamos o que nos diz Mészáros:
"A estrutura da produção científica é basicamente a mesma da atividade produtiva fundamental em geral (principalmente porque as duas se fundem em grande medida): uma falta de controle do processo produtivo como um todo; um modo de atividade 'inconsciente' e fragmentado, determinado pela inércia da estrutura institucionalizada do modo capitalista de produção; o funcionamento da ciência 'abstratamente material'
como simples meio para fins predeterminados, externos alienados. Essa ciência natural alienada se encontra entre a cruz e a espada, entre a sua 'autonomia' (isto é, a idealização de seu caráter'inconsciente' , fragmentário) e a sua subordinação como simples meio para fins externos, alheios (por exemplo, programas militares e quase militares gigantescos, como os vôos à Lua)." MESZÁROS, István. A teoria da alienação em Marx; tradução Isa Tavares. - São Paulo: Boitempo, 2006, p. 98.
Outra crítica feita pelo fundador do Materialismo Histórico era à concepção filosófica como algo abstrato, dissociado da vida cotidiana do homem. Questão também abordada por Gramsci (que abordaremos em outro tópico). Mais uma vez recorro à Mészáros que faz uma síntese esclarecedora da questão:
" A filosofia, por outro lado, expressa uma dupla alienação na esfera do pensamento especulativo: (1) em relação a toda a prática - inclusive a prática, por mais alienada, da ciência natural - e (2) em relação a outros campos teóricos, com a economia política, por exemplo. Em sua 'universalidade' especulativa, a filosofia se torna um 'fim em si mesmo' e 'para si mesmo' , oposto de modo fictício à esfera dos meios: um reflexo radical de todos
os outros meios em relação aos fins. Como separação radical de todos os outros modos de atividade, a filosofia parece ser, aos seus representantes, a única forma de 'atividade da espécie', isto é, a única forma de atividade digna do homem como 'ser universal'. Assim, em vez de ser uma dimensão universal de toda atividade, integrada na prática e em seus vários reflexos, ela funciona como uma 'universalidade alienada' independente (verselbständigt), mostrando o absurdo de toda esse sistema dealienações pelo fato de ser essa 'universalidade' fictícia realizada como a mais esotérica de todas as especialidades esotéricas, rigorosamente reservada aos'sumos sacerdotes' alienados (os Eingeweithen) desse comércio intelectual." MESZÁROS, István, op. cit, p. 99.
E quantos "filósofos" da alienação não encontramos nesse mundo acadêmico? Mercadores do comércio intelectual, mesmo que não tenham transformado (ainda) suas disciplinas em algum curso de fim de semana que tem nome pomposo (pós-graduação lato sensuautosustentável). É o divórcio radical, diria eu, "litigioso", entre a teoria e a prática, a tal "universalidade alienada", já citada.
A preocupação de Marx foi não só com a alienação do homem em relação à natureza, mas também com a alienação do homem com a sua própria natureza.
A superação do pardigma atual passa pela superação da ordem social atual. A superação da alienação passa pela superação do sistema que conduz à alienação.
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