Rádio Chapada



sábado, 8 de janeiro de 2011

Ricardo Campos - O observador dos marginalizados

Poeta, contista, artista visual e acadêmico do Curso de Artes Visuais da Universidade Regional do Cariri – URCA, Ricardo tem como ingrediente para a sua produção estética e artística o cotidiano das pessoas que estão à margem da sociedade. Campos tem clareza que a arte não é dom, mas domínio.

Alexandre Lucas - Quem é Ricardo Campos?

Ricardo Campos - Sou um bom garoto (segundo minha mãe), além disso, sou estudante de artes visuais (URCA) e me dedico ao desenho e a criação literária. Tive 03 exposições individuais, 04 coletivas, participo freqüentemente de recitais poéticos, e tenho 2 publicações (contos) pelo Sesc e pela Universidade Estadual do Ceará (UECE).

Alexandre Lucas - Quando teve inicio seu trabalho artístico?

Ricardo Campos - Muito cedo me interessei pelo desenho, ainda criança. Na adolescência descobri a poesia, mas a só aos poucos anos fui realmente começar a entender que aquelas idéias meio lunáticas que povoavam minha cabeça poderiam ser organizadas num trabalho realmente de cunho artístico. Descobri que a arte não era dom, mas domínio.

Alexandre Lucas - Quais as influências do seu trabalho?

Ricardo Campos - Os quadrinhos, a pop arte, o bar de Ciço Pebinha, Rubem Grilo, Fernando Sabino, Ferreira Gular, Modigliane, A pedra do Vento, Roberto Carlos, Salvador Dali, Millor Fernades, The doors, o Tocha Humana, Henri Miller ...

Alexandre Lucas - Como você ver a relação entre arte e política?

Ricardo Campos - A política esta em toda relação humana. Não se pode desassociá-la da arte, mesmo que o artista não tenha essa clareza das coisas, seu trabalho, sua cultura e ele mesmo, tem influencia das políticas praticadas na sua sociedade. Agora, o grande lance é como absorver e reinterpretar essa parada.

Alexandre Lucas - Como é essa história de pesquisar sobre a boêmia como matéria para a sua produção estética e artística ?
Ricardo Campos - Não se trata de pesquisar sobre a boêmia, na verdade eu observo seres humanos. personagens marginalizados e situações ordinárias.
Meu ultimo trabalho o “guardanapos” este sim, foi uma serie de desenhos em nanquim onde o foco era a noite boêmia na periferia.

Alexandre Lucas - Fale sobre seu trabalho visual?

Ricardo Campos - Sou um Desenhista de mim mesmo. Mas não desenho ou pinto o que gosto. Pelo contrario, algumas vezes reescrevo o que não gosto, ou o que não encontro ou o que a maioria das pessoas acredita que não vale à pena. Gosto de trazer a tona detalhes de coisas que normalmente não se dar conta.
Alexandre Lucas - Fale sobre o seu trabalho literário?

Ricardo Campos - Não há diferença no meu processo criativo (desenho, pintura, poesia ou conto).
Desde criança quando vejo uma imagem que me chamava atenção junto a ela automaticamente segue-se no pensamento uma frase ou uma citação de efeito. O exemplo mais recente disso é a minha ultima exposição individual (guardanapos) no Centro Cultural do Banco do Nordeste de Sousa PB. Que discute o mesmo universo e tem a mesma pegada poética do meu ultimo conto (A sombra do invisível) que foi recentemente publicado pelo SESC Crato. (um dos 10 selecionados da III Coletânea de Contos SESC)


Alexandre Lucas - Qual a contribuição social do seu trabalho?

Ricardo Campos - Sempre tive o ser humano como protagonista no meu trabalho, principalmente os marginalizados.

Alexandre Lucas - Você acredita que a Academia elitiza a arte?

Ricardo Campos - A academia me elucidou muitas coisas que via de maneira totalmente leiga no campo da arte. Penso que ela é fundamental para qualquer caminho que se deseje seguir. Mas também vejo a academia (no que diz respeito à arte) como uma escolinha de futebol. Que ajuda o garoto na disciplina e no treinamento tático, mas que se não tomar o divido cuidado pode-se perder o gingado e a malandragem, engessando e castrando sua poética.

Alexandre Lucas - Qual a importância de se fazer uma arte para as camadas populares?

Ricardo Campos - Boa pergunta. Arte que atinge as camadas populares pra mim, é a que a academia e os próprios artistas “conceituais” chamam de artesanato. A maioria dos artistas “contemporâneos” que conheço elitiza a arte. Produzem para um grupo muito restrito da sociedade, e deram pra chamar a arte popular de ingênua (Naif). Mas na real, pra mim o que é mais importante não é fazer arte para o grupo A ou B, o fundamental é fazê-la legitimamente, torná-la verdadeira e honesta.

Alexandre Lucas - Como você enxerga os coletivos de artistas?

Ricardo Campos - Muito positivamente. E o que mais me alegra é a diversidade de interesses que muitos desses grupos revelam.
Alexandre Lucas - Você é um artista que busca novos suportes para o seu trabalho?
Ricardo Campos - Sim. Mas isso pra mim não é uma paranóia. Tenho medo de me transformar num charadista. Só vou Desenhar numa melancia quando puder defender o motivo desse feito com honestidade.

Alexandre Lucas - Qual a importância do Coletivo Camaradas?

Ricardo Campos - O coletivo Camarada é o coletivo mais atuante da região. Independente de ideologia, o que me deixa muito feliz é o trabalho feito nas comunidades carentes, com a facilitação de oficinas, trazendo jovens para experimentações artísticas. Construindo uma corrente de pessoas interessadas na arte e na solidariedade. Gostaria de ter mais tempo para reforçar essa corrente.

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