Rádio Chapada



segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Hamurábi Batista – Um artista ponteiro




Os pontos de cultura é uma invenção que deu certo. Um dos exemplos vem de Juazeiro do Norte trata-se do Ponto de Cultura Mestre Noza que é gerido pelo ponteiro Hamurábi Batista. Neste Ponto de Cultura, os artistas agora tem a possibilidade de ter acesso gratuito a rede mundial de computadores, além de puderem fazer o registro dos seus trabalhos e isso é conseqüência do trabalho dedicado que vem sendo desenvolvido pelo artista visual e poeta Hamurábi, que recentemente ingressou no Partido Comunista do Brasil – PCdoB.


Alexandre Lucas - Quem é Hamurabi Batista?


Hamurábi Batista - Poeta, xilógrafo, bicho do mato, fruto da década mentirosa, pós ditadura, punk da década de 80 em Juazeiro do Norte.


Alexandre Lucas - Quando teve inicio seu trabalho artístico?


Hamurábi Batista - 1980, imprimindo as xilos gravadas pelo pai, em seu ateliê no fundo do quintal. No mesmo ano passou a escrever poesias nas capas dos cadernos, motivado pelas aulas de português e literatura do ginásio. Também passou a modelar com argila.


Alexandre Lucas - Quais as influências do seu trabalho?


Hamurábi Batista - O dia-a-dia, o rock’n roll, o jazz, o blues, os telejornais, a cultura popular, Augusto dos Anjos, Drummond, Bandeira, Abraão Batista, Mestre Noza, Chico Buarque de Holanda... Tom Zé, revolução.

Alexandre Lucas - Como você ver a relação entre arte e política?


Hamurábi Batista - A arte é livre, e penetra como o vento em todos os lugares que dêem passagem. Todas as coisas são boas, ruim é quem usa. A arte como instrumento formador de opinião, gerador da revolução. Tudo é política, a arte está em tudo. Reprovável podem ser as atitudes das pessoas, sejam na política, na arte, no convívio, no trabalho...

Alexandre Lucas - Seu trabalho é uma mistura do contemporâneo com o popular?


Hamurábi Batista - Exatamente, tudo que faço é resultado disso. Nasci em 1971, um dos piores anos da ditadura, fui adolescente na transição pra a “democracia”, então, acho estar ali o início da fusão. Não posso deixar de lado a tradição popular. Aquilo que mais quis provar era a liberdade de ser uma pessoa íntegra sem a necessidade de seguir padrão forjado pela ditadura, ou por preconceitos. As pessoas mais legais, são as mais simples... não dá para largar isso: o simples e o complexo, o antigo e o moderno. Uma coisa só existe em oposição a outra. Só existe o “sim” por causa da existência do “não”...


Alexandre Lucas - O que representa para você estar no comando do Centro de Cultura Mestre Noza?


Hamurábi Batista - Poxa, muito massa, sou um cara que dá maior valor para as coisas feitas das formas mais rudimentares, sem obrigação de utilizar os recursos modernos. A Associação dos Artesãos de Juazeiro do Norte, da qual sou presidente eleito pela assembléia geral, é exatamente isso, a auto gestão. Procuro integrar meu conhecimento, e minha escolaridade ao movimento, posso ajudar bastante, já conquistamos boas coisas juntos. O Centro Cultural Mestre Noza, gerido pela associação é esplêndido, magnífico, pua que palavras quando podemos constatar pessoalmente? Visite-nos: rua s. Luis, 96 (antigo quartel) centro.

Alexandre Lucas - Quais os desafios do Centro de Cultura Mestre Noza?

Hamurábi Batista - Todos os desafios estão ligados a um: o escoamento da produção. Este é o foco. Não adianta nada se não superarmos a dificuldade de comercialização dos nossos produtos, não dá nem pra pensar com fome, com dívidas, com planos adiados, frustrações...

Alexandre Lucas - Qual a importância do Centro de Cultura Mestre Noza ser Ponto de Cultura?

Hamurábi Batista - INTEGRAÇÃO, E INTERAÇÃO COM OS DIVERSOS SETORES, LINGUAGENS, E TIPOLOGIAS DA CULTURA E DA ARTE, POR MEIO DA REDE ESTADUAL E/OU NACIONAL DOS PONTOS DE CULTURA, O RECONHECIMENTO POR PARTE DOS GOVERNOS ESTADUAL E FEDERAL, AS OPORTUNIDADES E PERSPECTIVAS QUE SURGIRAM, E PODERÃO SURGIR A CURTO E MÉDIO PRAZOS, INCLUSÃO SOCIAL.


Alexandre Lucas - O Brasil vive um novo momento de caráter progressista na área das políticas públicas para a cultura. Como você percebe essa nova conjuntura?


Hamurábi Batista - Importante demais o fato dos recursos públicos para a cultura estarem passando pelas mãos das comunidades culturais, e dos artistas, através dos editais. Há muitas críticas sobre essa política. Vamos avançar sim, lógico. Vejo que antes não tínhamos nada além do abandono e da indiferença. Vamos em frente aprimorar isso conquistado. Buscar formas mais viáveis, eficazes, inclusivas. Há muita gente ainda sem saber escrever projetos, há muitos compatriotas ainda movidos pelo rancor, pelas seqüelas, vamos incluí-los, vamos libertá-los, já!...


Alexandre Lucas - Qual a contribuição social do seu trabalho, enquanto artista?


Hamurábi Batista - Procuro fazer com que as pessoas tenham a liberdade de utilizar o recurso proibido à minha geração: o pensamento, a libertação do preconceito, o rompimento das amarras. Busco a pitada, apimentada, o tempero para tornar mais quente, mais penetrante, mais perigoso aos decreptos.


Alexandre Lucas - Você agora é comunista?


Hamurábi Batista - Vou responder com uma poesia:

O QUAISQUERES

Qualquer coisa eu sou um monossílabo

Dividido em qualquer rima

Desigual

Qualquer ISTA que eu não seja

Natural

Sou um EIRO

Qualquer e impossível

Um talvez

Um tampouco

Ou um total

Numa medida qualquer

Que for possível.

Hamurábi

O velho punk com tendências anarquistas dos anos 80, recém filiado ao PC do B, simpatizante de Trotsky, puto da vida com Stalin, apaixonado por Dilma.

É isso aí, é isto aqui: artesanato é meio comunista, é auto gestão, é Canudos, é Caldeirão.


Alexandre Lucas - Como você ver a atuação do Coletivo Camaradas?


Hamurábi Batista - Poxa, tenho o Coletivo Camaradas como referência. Adquiri quando estudava na Urca, Letras. Do pouco que se salva naquela bodega. Com todo respeito aos colegas professores, e aos companheiros estudantes. O Coletivo Camaradas sempre será pra mim uma grande referência daquilo que há de bom.

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