Rádio Chapada



domingo, 3 de maio de 2009

Linguagem.

Na era vitoriana era proibido fazer menção às calças na presença de uma senhorita. Hoje em dia, não fica bem dizer certas coisas perante a opinião pública:" 

 

Por Eduardo Galeano, na Carta Maior
(Do livro 
De Pernas pro Ar, editora L&PM)


"O capitalismo exibe o nome artístico de economia de mercado;

 

O imperialismo se chama globalização;

 

As vítimas do imperialismo se chamam países em via de desenvolvimento, que é como chamar de meninos aos anões;

 

O oportunismo se chama pragmatismo;

 

A traição se chama realismo;

 

Os pobres se chamam carentes, ou carenciados, ou pessoas de escassos recursos;

 

A expulsão dos meninos pobres do sistema educativo é conhecida pelo nome de deserção escolar;

 

O direito do patrão de despedir sem indenização nem explicação se chama flexibilização laboral;

 

A linguagem oficial reconhece os direitos das mulheres entre os direitos das minorias, como se a metade masculina da humanidade fosse a maioria;
em lugar de ditadura militar, se diz processo.

 

As torturas são chamadas de constrangimentos ilegais ou também pressões físicas e psicológicas;

 

Quando os ladrões são de boa família, não são ladrões, são cleoptomaníacos;

 

O saque dos fundos públicos pelos políticos corruptos atende ao nome de
enriquecimento ilícito;

 

Chamam-se acidentes os crimes cometidos pelos motoristas de automóveis;

 

Em vez de cego, se diz deficiente visual;

 

Um negro é um homem de cor;

 

Onde se diz longa e penosa enfermidade, deve-se ler câncer ou AIDS;

 

Mal súbito significa infarto;

 

Nunca se diz morte, mas desaparecimento físico;

 

Tampouco são mortos os seres humanos aniquilados nas operações militares: os mortos em batalha são baixas e os civis, que nada têm a ver com o peixe e sempre pagam o pato, danos colaterais;

 

Em 1995, quando das explosões nucleares da França no Pacífico Sul, o embaixador francês na Nova Zelândia declarou: “Não gosto da palavra bomba. Não são bombas. São artefatos que explodem”;

 

Chama-se Conviver alguns dos bandos assassinos da Colômbia, que agem sob proteção militar;

 

Dignidade era o nome de um dos campos de concentração da ditadura chilena e Liberdade o maior presídio da ditadura uruguaia;

 

Chama-se Paz e Justiça o grupo militar que, em 1997, matou pelas costas 45 camponeses, quase todos mulheres e crianças, que rezavam numa igreja do povoado de Acteal, em Chiapas." 


Fonte: Portal Vermelho. 


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